Leishmania - Leishmaniose visceral canina

As Leishmanioses são um grupo de doença negligenciadas e causadas por protozoários do gênero Leishmania. Há três principais formas da doença: leishmaniose cutânea (LC), leishmaniose mucocutânea (LM) e leishmaniose visceral (LV). Em 2018, segundo dados da OMS, 92 países são considerados endêmicos para leishmaniose. Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas endêmicas e, portanto, em risco de contrair a infecção (BURZA et al., 2018).

Nas Américas, a LV é causada pela espécie Leishmania infantum (sinonímia L. chagasi), um agente zoonótico que tem impactado a saúde humana e animal a séculos. Apesar da diversidade de espécies de vertebrados acometidos pela L. infantum, o cão doméstico permanece um elo importante na manutenção do ciclo do parasito, principalmente em áreas urbanas (MAIA et al., 2018; DANTAS-TORRES et al., 2019).

Os cães quando infectados por L. infatum, após um período de incubação que varia de meses a anos, podem apresentar manifestações clínicas inespecíficas. Dentre essas destacam-se a linfadenopatia, anormalidades dermatológicas, anorexia, perda de peso, hepatomegalia, esplenomegalia, atrofia muscular e distúrbios renais. Ainda, os achados laboratoriais frequentemente reportados são: anemia, hiperglobulinemia e hipoalbuminemia. Entretanto, muitos cães permanecem assintomáticos durante o curso da infecção (SOLANO-GALLEGO et al., 2011; KOUTINAS et al., 2014; RIBEIRO et al., 2018).

A transmissão da L. infantum, seja entre cães ou de cães para seres humanos, é feita principalmente pelas fêmeas dos flebotomíneos. No Brasil, o flebotomíneo de maior importância na transmissão deste protozoário é a espécie L. longipalpis (mosquito palha). Este protozoário apresenta um ciclo de vida heteroxeno - digenético - passando por hospedeiros intermediários, os cães, e hospedeiros definitivos, os flebotomíneos. Durante o repasto sanguíneo no hospedeiro intermediário, a fêmea de L. longipalpis inocula as formas promastigotas do protozoário. Em contato com as células do sistema fagocítico mononuclear, essas formas evolutivas se transformam em amastigotas. Dentro dessas células, as amastigotas se multiplicam de forma assexuada e irão colonizar diferentes órgãos - ex: baço, fígado e linfonodos - do hospedeiro. No decurso de um novo repasto sanguíneo, a fêmea de L. longipalpis pode ingerir sangue contendo amastigotas de Leishmania. Dentro do aparelho digestório do inseto vetor, as amastigotas evoluem para forma promastigota, as quais se multiplicam e colonizam o aparelho bucal do flebotomíneo. Posteriormente, os protozoários podem ser transmitidos para um novo hospedeiro durante um novo repasto sanguíneo (RIBEIRO et al., 2018).

O controle da leishmaniose visceral canina (LVC) é complexo e tem sido debatido por especialistas do mundo todo por vários anos. Durante esse período, em diversas regiões do globo, inclusive no Brasil, as medidas de controle eram pautadas na eutanásia dos cães infectados. Com o passar do tempo e com o acúmulo de dados científicos de diversas áreas geográficas, é evidente que tal medida é falha. Atualmente, acredita-se que as medidas de controle da LVC devem ser primariamente focadas na prevenção do contato com o inseto vetor. A prevenção pode ser feita por barreiras físicas - utilizando mosqueteiros nas janelas de casas e canis - ou barreiras químicas - uso de repelentes. Além disso, outras medidas de controle incluem a eliminação de matéria orgânica peridomiciliar, evitar horários e ambientes onde esses vetores possam ter atividade, vacinação e o uso de medicamentos profiláticos (RIBEIRO et al., 2018; DANTAS-TORRES et al., 2019).

Com o objetivo de melhorar o prognóstico e evitar a transmissão do parasito entre os cães, ou de cães para seres humanos, o diagnóstico da LVC deve ser estabelecido o mais rápido possível. Várias técnicas estão disponíveis e são amplamente utilizadas no diagnóstico da LVC. Vale ressaltar que apesar da sua importância, as diferentes técnicas devem ser usadas e interpretadas de acordo com seus benefícios e limitações (GHARBI et al., 2015).

O diagnóstico parasitológico baseado na observação de amastigotas de Leishmania, preferencialmente em órgãos linfoides, é o único método de diagnóstico definitivo. As técnicas moleculares - PCR, qPCR e LAMP - possuem alta sensibilidade e especificidade. Além disso, tais abordagens apresentam vantagem por utilizarem vários tipos de amostras biológicas. Entretanto, é necessário lembrar que os resultados oriundos dos ensaios moleculares, não devem estar dissociados dos dados clinicopatológicos e sorológicos (SOLANO-GALLEGO et al., 2017).

Rotineiramente o diagnóstico da LVC é realizado pela detecção de anticorpos anti-Leishmania utilizando a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) ou por meio do ensaio imunoenzimático (ELISA). Recentemente tem sido incluído na rotina de diagnóstico da LVC os ensaios de imunocromatografia. Esses ensaios são rápidos, de fácil execução e interpretação, não necessitando de pessoas treinadas ou de sofisticados equipamentos de laboratórios (SOLANO-GALLEGO et al., 2011; RIBEIRO et al., 2018).

Atualmente, a nossa empresa dispõe de dois kits para auxiliar os Médicos Veterinários na confirmação do diagnóstico da LVC:

  • IMUNOTESTE - Leishmania (RIFI) - Cão
  • IMUNOTESTE - Leishmania (TESTE RÁPIDO) - Cão