Toxoplasma gondii - toxoplasmose

A toxoplasmose é uma zoonose cosmopolita causada pelo protozoário intracelular e eurixeno, Toxoplasma gondii (filo Apicomplexa e família Sarcocystidae). Possuindo uma epidemiologia complexa, T. gondii é capaz de infectar praticamente todos os animais homeotérmicos (DUBEY, 2010). Os felinos são os hospedeiros definitivos (HD) do parasito. Outros animais, incluindo os cães e os seres humanos, são considerados hospedeiros intermediários (HI) do protozoário (BERNAL e GENARI, 2019).

A infecção por T. gondii em cães e gatos é importante clínica e epidemiologicamente (BERNAL e GENARI, 2019). Entretanto, casos de toxoplasmose são muito mais frequentes em gatos do que em cães (DUBEY et al., 2009). Casos sintomáticos da infecção por T. gondii foram reportados em animais de produção, principalmente em ovinos, caprinos e suínos (STELZER et al., 2019). Entre os animais de produção, além das perdas econômicas ocasionadas pela infecção – ex.: abortamento e morte dos animais – a doença nestes animais torna-se relevante do ponto de vista zoonótico, uma vez que a ingestão de carne crua ou mal cozida é uma das formas de infecção humana (DUBEY, 2008).

Durante o ciclo de vida do protozoário, os oocistos não esporulados são eliminados nas fezes dos felinos (HD). Embora os oocistos geralmente sejam eliminados por um breve período de tempo, uma a três semanas, muitos occistos podem ser liberados pelos animais infectados. Os oocistos levam de um a cinco dias para esporular no ambiente e se tornarem infectantes. Os HI são infectados após a ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos. Uma vez ingeridos, os oocistos se transformam em taquizoítos após a ingestão. Esses taquizoítos distribuem-se no tecido neural e muscular e se desenvolvem em bradizoítos que permanecem latentes em cistos teciduais. Os HD são infectados após consumirem os hospedeiros intermediários – ex.: roedores e pássaros – que abrigam cistos teciduais. Os felinos também podem ser infectados diretamente pela ingestão de oocistos esporulados (DUBEY, 2010). Embora a maioria das infecções em cães e gatos ocorram de forma horizontal, há possibilidade da transmissão congênita (BRESCIANI et al., 1999; ATMACA et al., 2013; TAQUES et al., 2016).

Nos gatos, a toxoplasmose é mais severa em filhotes infectados via transplacentária. Esses animais, geralmente apresentam hepatite, pneumonia, encefalite, ascite, letargia e dispneia. Nos adultos, sinais clínicos inespecíficos têm sido reportados. Hepatite, inflamação intestinal e linfadenopatia regional foram descritas. O curso da doença pode evoluir rapidamente para casos fatais com o envolvimento de graves distúrbios respiratórios e neurológicos (DUBEY e CARPENTER, 1993). Pneumonia é o principal sinal de toxoplasmose generalizada. Ainda, síndrome respiratória aguda e choque séptico, podem ocorrer (BROWLEE e SELLON, 2001; EVANS et al., 2017). Além disso, diversos distúrbios oculares foram observados em gatos com ou sem toxoplasmose sistémica (DUBEY e CARPENTER, 1993).

Os cães raramente sofrem de toxoplasmose como doença primária, e na maioria dos casos, a doença está associada a imunossupressão e ausência de vacinação contra o vírus da cinomose canina (BERNAL e GENARI, 2019). Miosite, distúrbios neurológicos e oculares foram reportados em cães infectados (PATITUCCI et al., 1997; SWINGER et al., 2009). Manifestações cutâneas como, nódulos eritematosos, dermatites, vasculites e trombose vascular são observadas e, geralmente, associadas a imunossupressão após a terapia com corticoides (HOFFMANN et al., 2012; PENA et al., 2014).

Ovinos e caprinos são altamente susceptíveis a infecção por T. gondii. A enfermidade causada por esse parasito é considerada a principal causa de falhas reprodutivas em pequenos ruminantes. Estima-se que a infecção seja responsável por 10 a 23% dos abortos em ovinos na Europa e EUA. Relatos demonstram que em outras regiões do mundo, como no Oriente Médio e América do Sul, a infecção por T. gondii esteja associada com 3 a 54% dos abortos entre esses animais (STELZER et al., 2019). Apesar das manifestações clínicas da toxoplasmose (transmissão horizontal) em pequenos ruminantes sejam brandas, a transmissão congênita trás graves consequências para o feto. A transmissão vertical pode resultar em morte e reabsorção do feto, aborto, natimorto, nascimento de animais fracos ou até mesmo em animais clinicamente normais. Essas variações estão intimamente associadas ao período da gestação em que houve a infecção (BUXTON e LOSSON, 2007).

Devido a epidemiologia complexa, o controle da toxoplasmose não é fácil de ser executado. A adoção de práticas como a utilização exclusiva de alimentos industrializados, restrição dos animais a locais possivelmente contaminados com oocistos, ou habitado por hospedeiros intermediários, podem diminuir a exposição de cães e gatos ao T. gondii (ARRUDA et al., 2021). Dentre os animais de produção, cuidados com a água e alimentos são cruciais para diminuir os riscos de infecção. O controle de roedores (HI) e de felinos (HD) deve ser realizado em fazendas objetivando a diminuição da infecção dos animais de produção. Por fim, a vacinação, quando disponível, o tratamento e o monitoramento dos animais devem ser realizados (DUBEY, 2009; STELZER et al., 2019).

O diagnóstico da toxoplasmose pode ser realizado por diferentes ferramentas. Diversas abordagens sorológicas, tais como ELISA, RIFI, teste de hemaglutinação indireta, imunocromatografia, western blotting e dye test foram desenvolvidos para detecção de anticorpos anti-T. gondii. De forma similar, várias técnicas moleculares – ex.: PCR, qPCR e LAMP – são utilizadas para o diagnóstico da toxoplasmose (LIU et al., 2015). Embora o isolamento do parasito possa ser realizado, na rotina, o diagnóstico não é frequentemente feito utilizando essa abordagem (KOMPALIC-CRISTO et al., 2005).

Atualmente, nossa empresa conta com os kits de RIFI para o diagnóstico da toxoplasmose em amostras de cães e gatos. Os testes de RIFI para detecção de anticorpos anti-T. gondii em amostras de ovinos, caprinos e bovinos estão em fase de registro junto ao MAPA.