Rhipicephalus (Boophilus) microplus - carrapato do boi

O carrapato do boi (Rhipicephalus microplus) coevoluiu com os bovinos Asiáticos (Zebuínos), e em função da migração das raças europeias (Taurinos) durante os séculos XVIII e XIX, essa espécie de ectoparasita foi amplamente difundida para as regiões tropicais e subtropicais do globo. Atualmente, R. microplus é tratado como um complexo de espécie, havendo diferença geográfica entre os diferentes clados (BURGER et al., 2014; TABOR et al., 2017).

De forma geral, os carrapatos afetam cerca de 80% da população de bovinos distribuídos ao redor do mundo, e de forma específica, o R. microplus é a espécie de carrapato que causa maior impacto econômico (HURTADO e GIRALDO-RÍOS, 2018). Esse impacto econômico deve-se à ampla distribuição do R. microplus, seu hábito espoliativo e número de animais infestados. Além disso, o impacto econômico está intimamente associado a epidemiologia das doenças transmitidas pelo carrapato, e pode ser dividido em perdas diretas e indiretas. As perdas diretas na produção incluem os danos na pele do animal em função das picadas, principalmente em alta infestação, levando a depreciação do couro; anemia; severas reações imunológicas frente aos antígenos inoculados durante o repasto sanguíneo; estresse permanente, afetando o comportamento e a saúde animal e acarretando depressão do sistema imunológico. As perdas indiretas são relacionadas com os efeitos dos hemoparasitas (ex.: Anaplasma marginale e Babesia spp.) e outras doenças por eles transmitidas. Ainda, o custo com o tratamento dos animais doentes e no controle dos carrapatos, impactam negativamente a produção animal. Segundo Grisi et al. (2014), o carrapato do boi, causa na cadeia produtiva um prejuízo de 3,2 bilhões de dólares/ano.

Em resumo, o ciclo biológico do R. microplus, que é completado em um único hospedeiro, pode ser dividido em duas etapas; a fase parasitária onde há predileção em parasitar bovinos, com preferência para o Bos tauros (taurinos) em detrimento ao Bos indicus (zebuínos), e a fase de vida livre. Durante a fase parasitária, a qual é exercida pelos estádios de larva, ninfa e adultos, pode haver a transmissão de patógenos, principalmente A. marginale e Babesia spp., para os animais. As fêmeas quando ingurgitadas, também conhecidas como teleóginas, se desprendem do bovino e caem ao solo. A partir desse momento inicia-se a fase de vida livre, e as teleóginas buscam um lugar adequado para iniciar a oviposição. Após um período de maturação, dos ovos eclodem as larvas, que depois de um curto período de quiescência, sobem em grupos para as pontas das folhas do capim, onde permanecem juntas à espera do hospedeiro. Segundo Furlong (2002), as larvas podem permanecer por mais de 80 dias à espera de um hospedeiro, e assim que alcançam, se fixam e inicia-se a fase parasitária. A fase parasitária, desde a fixação das larvas até o desprendimento das teleóginas, varia de 18 a 31 dias (média de 21 dias) (Garcia et al., 2019).

O controle desse ixodídeo ainda é realizado predominantemente com acaricidas, e apenas quando os animais se apresentam visualmente parasitados por esse ectoparasita, já na etapa final da fase parasitária. Neste momento, a maioria dos danos são irreversíveis. Pela importância de se produzir carne e leite com alta qualidade e segurança alimentar, protegendo o meio ambiente e buscando produtividade e competitividade no mercado, o controle do R. microplus deve ser realizado de forma estratégica, e não apenas pautado no uso - as vezes indiscriminado - de acaricidas (ANDREOTTI et al., 2019). Assim, segundo Andreotti et al. (2019) o controle estratégico deve ser executado seguindo os seguintes aspectos:

  • Escolher o inseticida adequado;
  • Aplicação em época do ano adequada;
  • Aplicar o inseticida de acordo com as recomendações do fabricante;
  • Utilizar EPIs durante a aplicação;
  • Reduzir a população de carrapatos nas pastagens;
  • Dar atenção especial aos animas “de sangue doce” mais infestados;
  • Realizar o controle preventivo dos animais que entram no rebanho;
  • Evitar infestações mistas de carrapatos;

Vale ressaltar que antes da implementação das medidas de controle, as características ambientais, do rebanho e do tipo de produção, por exemplo, devem ser levadas em consideração.